[caption id="attachment_1490" align="aligncenter" width="600" caption="Foto:Filipe Araújo/AE"]
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A Represa Billings, uma das caixas d’água que abastecem a Região Metropolitana de São Paulo, tem mais de oito quilômetros de margens tomados por toneladas de lixo – o mesmo que duas voltas completas no Autódromo de Interlagos ou o mesmo que 25 Torres Eiffel empilhadas. O problema está mais visível com o nível baixo das águas. A mancha de detritos – garrafas plásticas, papel, madeira, móveis inteiros e todo tipo de sujeira, além de esgoto in natura– se estende entre o Cantinho do Céu, região do Grajaú, zona sul da capital, até a cidade de Diadema, região do ABC.
Uma das piores partes, um braço da Billings com mais de 2,5 quilômetros quadrados, fica entre o Jardim Apura e Balneário São Francisco, bairro Pedreira, zona sul de São Paulo. Nessa localidade, o cheiro dos detritos em decomposição e de esgoto é bastante forte. Urubus fazem a festa na imensidão de sujeira. Valas de esgoto a céu aberto cortam ruas das comunidades e deságuam diretamente no manancial. Junto com esses dejetos escorre também muito lixo. Calçadas são tomadas por entulho e sujeira. As fortes chuvas dos últimos dias apenas encobriu um pouco o tamanho do problema.
A situação dramática levou o advogado e ambientalista Virgílio Alcides de Farias a ingressar com uma ação civil pública na Justiça para impedir a continuidade do bombeamento das águas sem tratamento do Rio Pinheiros para a Billings, exigir a remoção imediata do lixão na represa, além de iniciar operação em estações elevatórias de esgotos na região, para evitar o despejo de detritos residenciais nas águas do manancial.
A ação é contra a Empresa Metropolitana de Águas e Energia (Emae), concessionária de serviço público de geração de energia elétrica na capital e responsável pela represa, a Prefeitura de São Paulo e a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).
“Se você enfiar uma vara no chão nesse trecho da represa, ela afunda quase um metro. Isso significa que há um metro de lodo fecal. Fora o lixo acumulado. O bombeamento das águas contaminadas do Rio Pinheiros não pode continuar sem que seja feito o tratamento adequado. Estão sendo desrespeitadas as Constituições Federal e Estadual”, argumenta Farias. “A reversão das águas infectadas por esgotos e lixo, urbanos e industriais, vem, ao longo de décadas, convertendo o fundo do reservatório em imenso e lesivo lixão submerso.”
Origem do lixo. Basta andar pelas ruas do Balneário São Francisco e adjacências para ver lixo e entulho nas calçadas, além de valas a céu aberto. É o caso da Rua Sebastião Ferreira, uma pequena travessa da Avenida das Garoupas, onde tudo é precário. Lá a placa de identificação da via foi pintada a mão pelos moradores. A rua não existe oficialmente. Casas se espremem em vielas, com janelas à beira da via. Lixo se acumula nas estreitas calçadas e há uma vala que recebe canos das casas no entorno e escorre 24 horas por dia um líquido fedido: esgoto. A coleta de lixo é feita três vezes por semana. Mas é possível ver sacos com detritos à toda hora na via pública.
“A gente procura colocar o lixo na rua no dia que o lixeiro passa. Mas nem todo mundo é assim. Tem gente que comprou sofá novo e jogou o velho lá na frente. Adivinha onde isso vai parar”, conta a dona de casa Maria Filomena de Souza, que se mudou para o bairro há cinco anos.
Há 30 anos no bairro, Pedro Luiz Ribeiro diz que o problema do lixo na Billings nesse trecho é recorrente. A parte onde ele mora abriga casas com quintais e árvores e os moradores são mais organizados. Conseguiram até construir uma pista de corrida à beira da represa. “O poder público é totalmente omisso. Sempre reclamamos, pedimos providências e nada acontece. Mas tem responsabilidade também a população que mora nos morros, na Favela Nova Pantanal e outras. São áreas invadidas. O lixo e o esgoto descem desses locais e caem na represa. Há anos fizemos um projeto para resolver o problema e enviamos ao Emae. Nada foi feito.”
Ribeiro conta que o lixo começou a se avolumar na Billings há 15 anos, quando os bairros das redondezas cresceram com as invasões. “Os córregos viraram esgoto. Mas também é só encher o Rio Pinheiros que bombeiam tudo para cá. O resultado é esse aí, a sujeira e o esgoto que mataram a represa”, afirmou.
EMAE NÃO TEM PROJETO PARA A REGIÃO
A Empresa Metropolitana de Águas e Energia (Emae), responsável pela Represa Billings, não tem nenhum projeto para a limpeza do manancial ou para evitar o acúmulo de lixo em suas águas. Uma nota divulgada pela assessoria de imprensa da empresa diz que “a problemática do lixo e esgotos no reservatório é uma questão que deve ser enfrentada intensivamente pelo poder público estabelecido em todos os municípios do entorno. Só uma ação efetiva e simultânea na coleta e destinação adequada dos resíduos, antes que cheguem aos córregos, poderá reverter o quadro hoje existente”.
O lixo na Billings, diz a Emae, não é proveniente do bombeamento das águas do Rio Pinheiros para controle de cheias, pois as usinas elevatórias de Traição e Pedreira possuem grades de retenção de resíduos com máquinas especiais de limpeza continua que atuam durante os eventos de chuva. “Ainda com relação a mancha de lixo citada, desconhecemos a existência pois os resíduos se acumulam nas margens, carreados pelo vento”. Finalmente, a Emae, continua a nota, “tem feito várias campanhas educativas nas quais mobiliza mutirões de moradores para catação dos resíduos das margens, dentro de um programa de educação ambiental e social”.
A Sabesp informou que desenvolve programas que vão beneficiar cerca de 318 mil pessoas que moram no entorno da Billings com a instalação de redes coletoras de esgotos, coletores troncos e interceptores que exportarão os esgotos de todos os bairros contemplados nesses programas para uma estação de tratamento, segundo Roberval Tavares de Souza, superintendente da Unidade de Negócio Sul da Sabesp. “Há um investimento de aproximadamente R$ 917 milhões nessa região.”
A companhia informou ainda que as regiões do entorno da Billings estão sendo atendidas pelos programas Projeto Tietê, Pró Billings, Mananciais, Vida Nova – parceria entre Sabesp e a Prefeitura de São Paulo. A Subprefeitura de Cidade Ademar, responsável pelos bairros Jardim Apura, Balneário São Francisco e redondezas, procurada desde o dia 8, não se pronunciou.
Nos últimos quatro anos houve um salto no volume de esgoto gerado na bacia da Billings encaminhado para tratamento na ETE Barueri. Em 2007, 231,2 milhões de litros de esgoto por mês eram tratados. Hoje, diz o superintendente, esse volume é de 705 milhões de litros.
No Balneário São Francisco, localizado na margem direita, dos imóveis com ligação de água regularizada, 65% contam com coleta de esgoto. A comunidade possui seis estações elevatórias de esgoto que encaminham o esgoto coletado para a estação elevatória de esgoto Alvarenga para, posteriormente, serem bombeados para o Interceptor Pinheiros 6 e, então, tratados na ETE Barueri.
Na terceira etapa do Projeto Tietê mais duas estações elevatórias serão construídas até 2015, com investimento de R$ 800 mil e atenderão os imóveis localizados em área rural, quando, então, 90% do esgoto da comunidade deverão ser tratados.
A Represa Billings é responsável pelo abastecimento de água de 1,2 milhão de habitantes da Grande São Paulo
Recebe aproximadamente 400 toneladas de lixo por dia
Parte de suas águas estão contaminadas por metais pesados como cobre, cádmio, chumbo, níquel e zinco, segundo pesquisa da Universidade de São Paulo (USP)