quinta-feira, 27 de maio de 2010

Avião que anda sobre trilhos

Andar num trem de metrô sem condutor, como o existente na Linha 4-Amarela de São Paulo, é o mesmo que viajar num avião no piloto automático. Computadores comandam tudo. A diferença é que no avião os controles ficam no computador de bordo ao lado do piloto. Nos trens da Linha 4 o controle é feito de modo remoto direto do centro de controle operacional (CCO), localizado no pátio Vila Sônia, zona oeste da capital, onde é feita a manutenção e há a garagem do ramal.
O envio de dados das composições do metrô em operação para o CCO tem o mesmo procedimento da telemetria utilizada nos carros de Fórmula 1, com dados online sobre consumo de energia elétrica, funcionamento do sistema de freios, tração e até ar condicionado dentro do trem.
O sistema de controle da nova linha é totalmente automatizado, o que torna as operações mais precisas e rápidas. A base do sistema é a comunicação integral com o trem através de rádio. “É o mesmo modelo de funcionamento do transponder do avião. Antenas estão colocadas em todo o túnel. É informada a localização do trem, sua velocidade, o abre e fecha das portas da composição, o abre e fecha das portas de plataforma nas estações”, explica Luís Valença, diretor-presidente da ViaQuatro, concessionária da Linha 4.
Com um toque no mouse, o operador no CCO pode aumentar ou diminuir a velocidade do trem, manter a composição mais tempo parada na plataforma, segurar a porta de plataforma aberta ou mesmo inserir mais um carro no sistema caso a demanda de passageiros seja maior que o esperado. “No dia da inauguração, o operador segurou a porta de plataforma aberta por mais tempo que o definido (30 segundos) para que o governador (Alberto Goldman) entrasse no trem junto com toda a comitiva. Esse é um exemplo do que os operadores podem fazer”, explicou Valença.
Ontem, segundo dia de operação assistida da Linha 4, um problema considerado de rotina mas não informado, levou o CCO a segurar um trem que ia no sentido Estação Paulista mais tempo no túnel antes de chegar à plataforma. “Foi um problema considerado normal, sanado rapidamente”, justificou o diretor da concessionária.
E qual a garantia que um sistema não falhe e provoque algum problema na operação colocando em perigo a segurança? Para todos os principais sistemas existentes – alimentação de energia elétrica, operação do trem, controle de frenagem, controle de velocidade, entre outros – há sempre um sistema reserva. É o chamado sistema de redundância. Se um falha, o outro assume a posição instantaneamente. “Se o sistema que alimenta o trem, chamado de on board control unit (OBCU) falhar, tem um segundo que o substitui. O CCO vai julgar o tamanho da falha e determinar se o trem continua a operar ou precisa ser recolhido”, explica Valença.
As portas de plataforma de vidro nas estações foram colocadas para isolar os trilhos. Se forem forçadas, o sistema entende que foram abertas à força e bloqueiam o acesso dos trens às estações. As composições param 30 metros antes ou depois das plataformas até que a segurança confirme que não há nenhum usuário nos trilhos.
A automação do sistema, segundo o consultor em transportes Peter Alouche, que trabalhou por 35 anos no Metrô, sempre existiu em São Paulo. “Não é uma novidade do outro mundo. Em 1974, quando foi aberta a Linha 1-Azul, já entrou em operação o automatic train operation (ATO), que nada mais é do que o condutor nos carros utilizado apenas para abrir e fechar as portas nas estações. O restante da operação é feito por comandos do CCO”, conta Alouche. De acordo com José Geraldo Baião, presidente da Associação dos Engenheiros e Arquitetos do Metrô de São Paulo (Aeamesp), o sistema ATO funciona nos horários de maior movimento do metrô, quando é necessário colocar mais carros para atender a toda a demanda existente.
Aliás, o novo sistema de comunicação via rádio utilizado na Linha 4 permitirá, quando todas as 11 estações estejam em operação em 2012, que o tempo de partidas dos trens nas estações chegue a 75 segundos. Hoje o recorde na Linha 3-Vermelha é 101segundos. “Com 75 segundos será o menor intervalo do mundo”, diz Gerson Toller, presidente da Feira Negócios nos Trilhos. O recorde de menor intervalo é do metrô de Moscou, com 90 segundos de intervalo entre os trens.
O sistema de monitoramento no CCO da Linha 4 é feito por um vídeo wall, uma grande tela de 12 metros de comprimento. Nessa tela gigante é possível acompanhar toda a extensão da linha, as estações, o pátio de manobra e manutenção e todos os sistemas de operação no ramal, nas estações e até mesmo a segurança. São três operadores – elétrica, trem e passageiros/segurança –, um supervisor e três agentes de seguranças por turno. A sala se parece com uma torre de controle dos aeroportos. O prédio em que está localizado já foi apelidado pelos funcionários de “amendoim” por causa do formato se assemelhar a bago de amendoim com três grãos.

Essa é a versão integral de matéria publicada hoje no caderno Metrópole do Estadão.

3 comentários:

joao rui o. muniz disse...

É a evoluçao .
Dai a necessidade de investimentos pesados na educaçao,para que nao tenhamos de importar logo mais : operadores para todos os sistemas mais avançados !
Joao

Paulo Bon disse...

É igualzinho o trem bala, muito bacana

Tarcizio Zanfolin disse...

Que transferência de tecnologia houve para os trens, Sr. jornalista?
Porque essa tecnologia custa caro para importar. Espero que no futuro possamos fazer os nossos proprios trens e não importar da Coreia, França, Alemanha ou Espanha.