quarta-feira, 7 de abril de 2010

Dava para evitar a tragédia?

O não monitoramento de áreas de risco, a não remoção de casas construídas em terrenos instáveis e a inexistência de cartas geotécnicas são erros acumulados na gestão do crescimento urbano. Aliado a isso, o descaso em relação às características geológicas e geotécnicas dos terrenos ocupados estão na origem das enchentes e deslizamentos no Rio de Janeiro, São Paulo e em outras regiões do País. Estas são as principais conclusões contidas em um documento elaborado pelos principais especialistas brasileiros em estabilidade de encostas. Para "interromper o avassalador fluxo de produção de novas situações de riscos geotécnicos", municípios e Estados precisam adotar um conjunto de cinco medidas urgentes. Essas medidas são apresentadas no documento "Carta às Autoridades", assinado pelo engenheiro geotécnico Jarbas Milititsky, presidente da Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (ABMS), e pelo geólogo Fernando Kertzman, presidente da Associação Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental (ABGE). Os especialistas apontam a necessidade de elaboração de cartas geotécnicas e cartas de riscos, a começar das áreas mais críticas; fazer o monitoramento das áreas de riscos; realizar a remoção de moradias localizadas em pontos instáveis; efetuar a capacitação de técnicos nos municípios e Estados juntamente com o treinamento das comunidades situadas em áreas de risco.

"A elaboração desses documentos cartográficos e de monitoramento demanda alguns meses de trabalho de equipes multidisciplinares, mas seria possível que no início do próximo semestre os municípios mais críticos já tenham esses instrumentos de gestão disponíveis, de modo que as medidas de antecipação ao próximo período chuvoso possam ser implementadas eficientemente. A ausência destes instrumentos faz com que hoje grande parte do esforço e dos recursos despendidos concentre-se nas ações imediatas e emergenciais de atendimento pós-desastre, sobrecarregando os órgãos da Defesa Civil. A prevenção é possível, eficiente e mais barata que a remediação", diz a carta que será aprsentada ao público no dia 16, no Instituto de Engenharia, em São Paulo.

21 comentários:

Heitor Monteiro Lima disse...

A causa fundamental que provocou essa tragédia, ganancia imobiliaria aliada a corrupçao de quem devia zelar pelo ambiente nao é mencionada no 1º parágrafo, o resto é consequencia.
Heitor

Heitor Monteiro Lima disse...

A ganância imobiliária, aliada a corrupção, não mencionada no primeiro parágrafo é a causa dessa tragédia, o resto é conseqüência. Não foi a primeira tragédia e não será a última.
A comunidade ingênua e honesta imediatamente se mobiliza em socorro dos atingidos.
Essa mesma comunidade deveria estar permanentemente mobilizada para cobrar e fiscalizar o que o governo fará para resolver definitivamente o problema.
Heitor

Vitor Nishimoto disse...

As cartas geotécnicas são um importante instrumento de planejamento e gestão, mas são apenas isso: um instrumento. O meio técnico pode produzir esses mapeamentos sem problemas, o know-how já é bem dominado. A etapa posterior, quando é preciso de recursos para fazer as remoções ou para manter o monitoramento é que precisa ser política de estado, senão paramos só no diagnóstico do problema, sem remédio para aplicar.
Infelizmente a população afetada é tratada apenas clientelisticamente pelos políticos, com obras "emergenciais".

João Carlos garcia Ramos disse...

Sabemos que cabe ao Poder Público definir e implementar os vetores de desenvolvimento urbano adequados à urbanização de cada Região, de modo que a construção de moradias seja precedida dos estudos e implementação de obras que garantam transporte, saneamento, serviços, etc.. Quando isso não ocorre vemos os "Construtores de Favelas" e seus Cúmplices se enriquecerem construindo moradias sem qualquer qualidade ou critério técnico, em áreas de risco, alagadiças, etc., se aproveitando da boa fé, desconhecimento técnico e falta de opção daqueles que adquirem ou alugam tais habitações. E essas situações de risco e tragédia iminente são visíveis e toleradas pela Sociedade que não sai da sua letargia cômoda e egoista p/ exigir o Investimento Público de Longo Prazo necessário e a Fiscalização Rigorosa e Eficiente correspondente porquê não quer investir em Habitações e Transporte Eficiente Populares! Por outro lado, a legislação que não permite ao Empresário a dedução integral das despesas c/ o Vale Transporte, incentiva a contratação dos trabalhadores da "Favela mais próxima"! Finalmente pondero que Transporte é "meio" e não "fim", motivo pelo qual não pode "pesar" no bolso do Trabalhador, devendo ser subsidiado pela Sociedade de modo que a urbanização de áreas mais distantes seja uma alternativa viável para o trabalhador!

Carlos Angelo disse...

Em 1912 dois ingleses foram contratados para solucionar o problema de enchentes na cidade de São Paulo. O município tinha pouco mais de 35 mil habitantes. A solução sugerida era a de rebaixamento das calhas dos rios Tiête e Tamanduatei. E também o dissecamento dos terrenos alagadiços. Isso poderia ser feito com a plantação de árvores de grande porte, resistentes à umidade.
Hoje, passados tantos governos, a solução continua sendo a mesma. As desculpas também. Enquanto isso a população continua pagando impostos e ouvindo o que entra dizer que a culpa é do que saiu. O brasileiro acredita em tudo que lhe é contado. E quando percebe que foi logrado joga a culpa no alheio, esquecendo de olhar no espelho e assumir parte da culpa também.

Maria Alice disse...

Heitor,

Você descobriu logo os focos inflamatórios, mas no seu último parágrafo houve excesso de otimismo. Motivo: Não há cultura para tal.Boa parcela dos que teem potencial intelectual para isso ou estão "ganhando tempo e dinheiro " lá em cima ,ou em outras atividades particulares em parceria com os primeiros, ou , ainda,concentrados em "ações testosteronescas" (quase que diuturnamente). Tenho uma certa noção, pois vivi lá três décadas. As sujeiras, em geral, são empurradas para debaixo dos tapetes.Se não fossem, por exemplo, os leitinhos das viúvas e os royaties...hummm...não sei não !
Voltando aos focos inflamatórios, e com base no acima exposto, os mesmos são tratados com antifebris. Quer ver só:Há lugares que apareceram alagados em fotos que, na década 60, no mês de janeiro, jovenzinha já me preparava para ir às escolas e asilos destas regiões para ajudar com os desabrigados. É um rio sem curso. Daí a torre de babelzinha.

PraFrenteBrasil disse...

O artigo é ótimo, mas acrescento a seguinte pergunta:

Com a tecnologia de previsão do tempo existente hoje em dia, que possibilita prever nevascas e furacões com alta probabilidade de acerto, qual o porquê da população do Rio e adjacências não ter sido avisada ? Foi falta de equipamento ou mau uso dos equipamentos existentes ? Eu não aceito a versão de que era uma chuva de dimensão imprevisível.

Quanto à ocupação irregular, todo carioca está cansado de saber do risco. Nunca houve um só político governante da cidade ou do Estado capaz de enfrentar o problema, incluindo o atual prefeito, que assumiu fazendo "choque de ordem" proibindo a venda de coco na praia !

Maria Alice disse...

Heitor,

Linhas abaixo fiz considerações sobre o que você escreveu. Dê uma olhadinha. O que tentei lhe passar foi que a grande maioria lá tem uma noção atabalhoada sobre cidadania. Aliás, compulsoriamente, em outros oceanos, mais de uma vez, senti constrangimentos com conterrâneos ao vê-los agredindo verbalmente políticos de outros estados sem ao menos conhecerem seus trabalhos e, o pior, sem observar as presenças das famílias destes . Mas lá , no dia-a-dia, "engraçado", até onde sei (década de 80) costumavam se omitir diante de quaisquer irresponsabilidades, inconsequências e arbitrariedades que viessem de algum escalão acima. Adesões às cobranças de direitos e solidariedades, só muito camufladas(de causar constrangimentos para aqueles que era lesados injustamente). Sinceramente, espero que os cursos destas águas omissas estejam tomando um rumo( certo, lógico!).Quer uma prova da incoerência cultural ? Então, lá vai: terra turística, com possibilidade de grandes entradas de $ , via turísmo, com os visitantes exposto a um alto grau de violência.. Acho que está bom, né?

George Rocha disse...

Evitar desastres provocados pela NATUREZA é improvável que se poderia evitar, mas ALERTAR a população de que uma tempestade de grandes proporções estava se movendo rapidamente em direção à cidade do Rio de Janeiro, isto sim, deveria ter sido publicado pela DEFESA CIVIL.

Eu postei um video no YouTube

http://www.youtube.com/watch?v=GrYW9B87CvU

com as imagens do radar METEOROLÓGICO da Aeronáutica, o qual está instalado no Pico do Couto, na serra de Petrópolis.
O radar detectou a formação da tempestade antes das 13 horas do dia 05 ABR 2010 e no video todos poderão confirmar o avanço acelerado da TEMPESTADE que chegou ao Rio de Janeiro e permaneceu por longas 4 horas.

A melhor previsão meteorológica que existe no Brasil, é sem dúvida a da Aeronáutica, feita para para pilotos de avião. São coletados dados em todo o país por diversas estações aeronáuticas de superfície e os pilotos em voo devem relatar COMPULSORIAMENTE as condições atmosférica ao passar em determinados marcos nas aerovias, portanto são centenas de aeronaves transmitindo as reais condições meteorológicas para os controladores de voo e os dados são processados no BIM, Banco de Informação Meteorológica.
O problema é a falta de interação entre os governantes e a Aeronáutica.
Pilotos de avião já sabia antes das 15 horas que iria cair a TEMPESTADE sobre o Rio de Janeiro.

Gilson de Souza disse...

De fato é uma novela histórica que vêm piorando a cada capítulo, a cada "inadiministração". Só que agora a situação deixa de ser "apenas" um problema a ser empurrado para debaixo do tapete. Assumiu a dimensão de tragédia.
Não dá mais para ficar buscando desculpas no aumento da população, na ocupação indiscriminada ou em São Pedro. O que estamos vendo é produto do descaso, da irresponsabilidade pública e da falta de preparo gerencial dos nossos políticos para ocupar cargos que exigem planejamento, respostas e ações.
Um politico capixaba, já falecido, o senador João Calmon, andava tão incomodado com esse despreparo que passou a defender que todo candidato a um cargo público passasse por um aprendizado (em todos os níveis, do educacional ao político, inclusive para aprender como apresentar projetos). Incluiu na proposta uma avaliação do candidato, a ser feita um ou dois anos depois pelos seus próprios eleitores, caso fosse eleito. Se a avaliação fosse negativa ele seria excluído dos cargos (será que iria sobrar alguém?). Infelizmente, morreu sem conseguir.

Stonis disse...

Nasci no Rio e conheço bem a geografia peculiar, mas os reponsáveis por essa e outras tragédias naturais são as proprias pessoas e principalmente os politicos incompetentes e corruptos que desde Dom João a 200 anos que comandam aquela cidade caótica.
Sái do Rio em 66 por antever o futuro negro dessa cidade, fui par SP onde estudei e iniciei uma sólida carreira e foi o melhor que fiz, não que SP seja melhor que o Rio, mas infelismente aquela cidade a muitos anos afundou na lama da corrupçao, clientelismo e no crime, é uma cidade sem solução, até tem só com o dinheiro que pretendem gastar com o Trem Bala daria para construir 1000 hospitais, tirar da favela centenas de milhares de pessoas, mais esses imundos politicos e administradores só pensam nas verba$.. que poderão controlar com os eventos da Copa e da Olim(piada). é vergonhoso nosso país afundar desse modo nessa lama literal e moral em que se tornou a Cidade Maravilhosa Global que vemos todo dia na TV que insiste em vender essa mentira a todos os brasileiros, aquela Ilha da Fantasia das novelas.
Quem é do Rio e lá mora sabe da realidade nua e crua e não essa imagem que exportamos para o mundo.

Marcos disse...

Sim, desde que algum político honesto fosse passear lá em Niteroi. Nas comunidades mais necessitadas. Ao contrário disso, mesmo os de Niteroi, querem ficar em seus gabinetes negociando sempre em causa própria. É tudo um ação entre amigos. Dá nisso aí!!!

Isabela C. Pinheiro disse...

Ótimo artigo sobre o desastre acontecido!
O problema do Estado do Rio de Janeiro, assim como São Paulo e outros estados do Brasil, é histórico estrutural.
A pergunta que não quer calar é:
Porque não avisaram a população que isso iria ocorrer, tendo em vista que sabiam previamente?
Simples: Para onde iria essa parcela da população, estando avisada que estava prestes a ocorrer uma catástrofe?
Eis a questão; essa população em sua maioria pobre, que moram nos morros, onde sabemos que são locais inapropriados para se construir moradias, não teriam para onde ir, ficariam todos desesperados e talvez o caos fosse maior ainda, atingindo a parcela da população que não é atingida enquanto tudo isso ocorre, que são os ricos (não querendo generalizar, claro)!
Sinto muito apenas por essa carta não ter sido apresentada anteriormente (" Carta as autoridades"), apesar deste problema ocorrer a cada ano, quando várias cidades ficam em estado de emergência, e nada é feito em relação a isso. Porém temos que concordar que esse não é apenas um problema do governo, acima de tudo, a parte que mais precisa se conscientizar de seu direitos e deveres são os cidadãos. Então não adianta investirem bilhões de reais retirando as pessoas desse lugares periféricos e inadequados, e vierem mais outras milhares de pessoas que fazem migração, (o famoso o êxodo rural, que teve um índice significativo até 2000), sem condições econômicas para se sustentarem e cometerem o mesmo erro de construir abrigos nesses locais!
Por fim, infelizmente muitas vidas se foram, podemos tentar ajudar os que ficaram vivos e solicitar ao governo que como cidadãos estamos de prontidão para ajudar e esperamos que eles façam o melhor possível pelo nosso amado país!
Desculpe o comentário enorme, é que sempre leio o jornal e nunca tinha tido coragem de comentar antes!
Isabela, 19

Luis Fernando disse...

Assisti a uma entevista com um funcionário do CPTEC INPE em que ele disse que havia sido previsto para a cidade 70 mm de chuva, e não os mais de 300 mm que ocorreram. Um erro bastande grosseiro, eu diria.

CÁTIA RODRIGUES disse...

Ao meu modo de ver,essa tragédia é mais um alerta para as outras centenas de áreas de risco que existem em nosso país.
É apenas questão de tempo,as mudanças climáticas estão cada dia mais intensas e isso traz sem dúvida uma grande possibilidade de novos desastres.Ninguém está livre de uma tragédia dessas,mas existem maneiras de evitar uma catástrofe maior,assim como destacadas neste artigo.
É de extrema urgência que se os governos liberem verbas para a prenvenção,ao invés de ficar gastando dinheiro público com as consequências que estas tragédias acarretam,é sem dúvida muito mais barato prevenir do que remediar.E quando a bomba estoura,ninguém quer se responsabilizar,isso é fato!

PraFrenteBrasil disse...

Como carioca, espero que o povo do Rio de Janeiro reflita e faça dessa tragédia humana um tema sério da campanha eleitoral em outubro, em especial a de governador. Por um Rio melhor.

Já vi entrevista do prefeito de Niterói (é de ficar arrepiado), mas não ouvi ainda a voz daquele que governou o Rio por 12 anos - Cesar Maia.

Luiz Andrade disse...

Segundo uma certa candidata, essas tragédias são culpa única e exclusiva da inoperância dos governos afinal segundo o ESTADÃO ONLINE EM 31/01. "Enchente será arma de Dilma contra Serra em campanha". Ou será que a candidata estava só fazendo exploração eleitoreira com a tragédia alheia?

Juan Jose Verdesio disse...

Trabalhei numa consultoria em petropolis depois do desastre de 1988. Ali soube que ja existia mapa de risco de deslizamentos feito pelo IPT. O prefeito da cidade repartia tijolos para os habitantes das encostas para construir mais e mais. Mapas, doutorados mestrados sobre o assunte existem aos montes. Só falta criar vergonha na cara.

Eugênio disse...

O C. Maia tá quietinho, pensando no seu amigo Brizzola e suas burradas cariocas.

Wilson Araújo disse...

Governos e sociedade devem ter em mente que estes episódios não são fatalidades, fruto de um determinismo inexorável que de tempos em tempos, necessariamente matam e destroem.
A Segurança Global da população é dever do governante.Deveria ser pessoal e intransferível, mas até que algum deles realmente assuma o ônus de ser impopular, não veremos as mudanças necessárias serem feitas.
Vejo o momento atual propício. A comoção com tantas mortes não só pressiona governos como faz a sociedade repensar a questão da percepção do risco aceitável.
O Rio de Janeiro parece ter alguém consciente quanto esta questão. Se a anunciada retirada das pessoas do morro dos Prazeres ocorrer, talvez possamos presenciar um novo modelo de gestão de emergências pautado na prevenção e preparação ao invés da resposta e reconstrução após nova catástrofe.

marcia disse...

Gostei muito do artigo, e só gostaria de ressaltar o seguinte: por que o poder, seja Municipal ou Estadual, reconhecem as construções em áreas de risco fornecendo infra-estrutura (água, luz, telefone)? Simples: para ganhar votos, e como sabem que jamais serão responsabilizados por esses crimes, nada muda.
Ao meu ver, os vereadores que propõem e votam que se coloque infra-estrutura nestes lugares devem responder pessoal e criminalmente, pois incentivaram a população a se colocar em risco. Também fazem isso porque não querem enfrentar o lobby imobiliário que não permitiria que espaços decentes da cidade fossem voltados à habitação popular.