sexta-feira, 23 de abril de 2010

Contaminação e morte na Nuclemon

[caption id="attachment_1007" align="alignnone" width="400" caption="Foto: Werther Santana/AE"]Foto: Werther Santana/AE[/caption]

Um galpão com pé direito alto, poeira em todo lugar, muito calor. Para o dia a dia, a roupa utilizada pelos operários era a do próprio empregado, que a levava para lavar em casa. Nos pés, chinelos de borracha ou sapatos comuns. O ruído era intenso e muito alto. Equipamentos de proteção individual praticamente não existiam. O trabalho braçal era estafante. Os operários desconheciam o material que manipulavam. Descontaminação? Não existia. Assim era o cotidiano da Nuclemon Mínero-Química, na Avenida Interlagos, zona sul da capital. Hoje, o jornal Estado e o portal Estadão mostraram que foi iniciado, 18 anos depois de sua desativação, a descontaminação de um terreno da estatal nuclear contaminado com material radioativo.
O que os trabalhadores da antiga Nuclemon, hoje absorvida pelas Indústrias Nucleares do Brasil (INB), desconheciam é que estavam expostos a substâncias altamente tóxicas e radioativas. A principal matéria-prima utilizada na usina era a monazita, extraída da areia monazítica, rica em urânio e tório. Eram cerca de 700 pessoas, tanto operários como pessoal administrativo. Muitos já morreram, outros tiveram de se aposentar precocemente. São várias as doenças que acometem os ex-funcionários, entre elas a silicose e a incidência de poeira radioativa em seus pulmões.
Hoje, com centenas de pessoas contaminadas, corre na Justiça uma ação com pedido indenizatório dos ex-trabalhadores. “O sistema público de saúde não tem equipamento capaz de medir nossos problemas de radiação”, diz Milton Guadalupe, de 50 anos, aposentado por incapacidade física desde 2004. “Não tenho forças nas pernas. Não consigo subir escada, fico sem forças”, diz.
Guadalupe e cerca de cem outros trabalhadores pedem indenização na Justiça por danos morais. “A gente não era informado sobre a periculosidade do material que era manuseado. Era proibido a gente aprofundar conhecimento sobre o produto. A gente manipulava o produto como se fosse arroz, feijão”, conta.
A luta na Justiça já avançou um pouco. Desde 2008 conseguiram que a INB pagasse um plano de saúde para que pudessem fazer tratamento médico. Mas mesmo com a determinação judicial a empresa inicialmente entregou aos seus ex-empregados um convênio médico que só tinha validade no Rio de Janeiro e Minas gerais, onde estão localizadas unidades da companhia. “O juiz viu o que eles fizeram e determinou que fosse feito um plano em São Paulo. E estamos fazendo tratamento agora”, explica Guadalupe.

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